Por Karina Gomes Barbosa
Jornalista e professora do curso de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)
Fundado em agosto de 2008, o curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), em Mariana, recebe, a cada ano, cem novas e novos alunos. De lá pra cá, já formou centenas de jornalistas espalhados pelo país. E ao longo desses mais de 12 anos de existência, também ajudou a transformar o panorama da comunicação na Região dos Inconfidentes. Estudantes formadas e formados no curso atuam em veículos de comunicação, assessorias, órgãos públicos locais. Desde a criação do Mestrado em Comunicação, em 2015, há ainda a possibilidade aberta para o ingresso na vida acadêmica. Mestras e mestres em Comunicação da Ufop seguem em doutorados de todo o país, dão aulas e se envolvem na produção de conhecimento na área.
A marca da formação profissional em jornalismo na Região dos Inconfidentes oferecida por uma universidade pública, gratuita, de qualidade e inclusiva também aparece por meio dos produtos feitos na Ufop, como o jornal Lampião e a revista Curinga, premiados nacionalmente e engajados na cobertura local, das cidades onde circulam e das comunidades onde estão inseridos. Curinga e Lampião, entre outros, são lidos, discutidos, circulados, utilizados em escolas, servindo como fontes seguras de informação e ferramentas de educação midiática.
Não podemos deixar de notar, ainda, a importância da existência de uma formação em Jornalismo no interior do país, diante de uma mídia informativa concentrada no eixo Rio-São Paulo-Brasília, que grande parte das vezes ignora acontecimentos locais ou regionais ou, quando os cobre, não consegue mergulhar nos contextos específicos que procura reportar. Esse impacto direto no ambiente informacional das comunidades, proporcionado pela formação profissional em jornalismo, se reflete em iniciativas empreendedoras, como o Portal Ângulo, criado por uma jornalista oriunda da Ufop. A instituição do estágio supervisionado em jornalismo, em 2016, ampliou a presença de nossas e nossos estudantes em empresas e instituições da região e ajuda a consolidar a importância do curso de Jornalismo da Ufop.
Mas esse impacto está longe da potência que pode alcançar. O reconhecimento da importância e necessidade de jornalistas profissionais, com formação especializada, para apurar e produzir notícias, cobrir acontecimentos, coordenar projetos de assessoria, planejar e executar projetos em mídias sociais, ainda é incipiente em cidades como Mariana e Ouro Preto. Muitos veículos comerciais, como jornais, rádios, portais, além de assessorias, empresas de comunicação e órgãos governamentais, não possuem – e acham que podem prescindir de – jornalistas formadas e formados para tomar decisões qualificadas e justificadas.
Em alguns casos não há nenhum profissional da área nesses espaços; em outros, estagiários são indevidamente tornados responsáveis pela condução desses processos; em outros ainda, há trabalhadores sem formação adequada à frente dos projetos. Essas condições convivem ainda com casos de salários bastante inferiores aos pisos legais previstos para a categoria. Essas situações são deletérias, primeiro, em termos trabalhistas: representam uma desvalorização do trabalho jornalístico desde a etapa formativa até o profissional que não tem seu conhecimento, competência e habilidade reconhecidos e remunerados adequadamente.
O outro dano é ainda pior. O cenário contemporâneo de crise de informação, com impactos na qualidade e no status da democracia no Brasil, tem várias propostas de solução. Todas passam pela defesa e valorização do bom jornalismo, da informação de qualidade e de um ambiente de mídia saudável e ético. Esses objetivos só são possíveis quando há jornalistas praticando jornalismo, em todas as suas frentes e possibilidades de atuação.
Por quê? Porque jornalistas formadas e formados saem da faculdade levando atrás de si quatro anos de aprendizado, reflexão e experimentação sobre questões teóricas, práticas, técnicas, estéticas e éticas da Comunicação e do Jornalismo. É na faculdade, sob orientação de um corpo docente de excelência, que aprendem a atuar com responsabilidade e qualidade, de maneira crítica e consciente, em prol do interesse público e do direito humano à comunicação.
A pandemia de Covid-19 deixou essa imperiosidade ainda mais clara. Quem reage à avalanche de fake news, informações dúbias ou desencontradas; quem oferece informação ancorada em conhecimentos científicos, dados e fatos; quem esclarece dúvidas da população; quem dissemina com agilidade, clareza e alcance o que acontece desde a eclosão da pandemia no país, são jornalistas, são veículos que investem em jornalistas com formação profissional.
Por isso, é preciso um compromisso coletivo na defesa e valorização do jornalismo de qualidade, produzido por jornalistas formadas e formados habilitados a exercer as decisivas tarefas que se impõem diante de nossa profissão em tempos desafiadores.