Por Michelle Marie Louise de Oliveira Gomes Benedito
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Ao tomarmos os dicionários como referência na busca do significado da palavra empatia, encontraremos que ser empático é possuir uma competência emocional que possibilite a um indivíduo se colocar no lugar do outro. Esta competência é tomada por nossa sociedade basicamente como uma virtude, ou seja, aquilo que está em conformidade com o correto.
Mas como pensar nessa habilidade em tempos de crise?
Proponho iniciarmos pela exploração de um afeto de grande importância no cenário atual: a angústia! A partir de Freud e Lacan, entendemos a angústia como um afeto sem representação, que não engana e que pertence ao registro do real. Esclarecendo um pouco mais, trata-se de um sentimento estranho que nos atravessa sem aviso, sem que tenhamos um nome muito claro para ele, e que demanda um esforço importante para ser compreendido.
A vivência da pandemia toca a cada sujeito de uma forma. Desencadeia em cada indivíduo angústias que não são explicadas apenas pelos fatos externos. Cada um, em seu modo de viver no mundo, havia estabelecido formas para lidar com seus momentos de crise e angústia. Entretanto, não há experiência prévia para lidar com isso que atravessa a humanidade neste momento.
Se reduzirmos um pouco mais a experiência, trazendo-a para o cenário nacional, podemos observar um a mais, que se soma ao que vivemos. Desde antes da pandemia, sofremos um movimento de forte polarização social. Como essa polarização pode representar um a mais? E como isso se relaciona à uma posição empática?
Observamos que um movimento de polarização/divisão social pode resultar em grandes dificuldades para solucionar a crise em que estamos imersos. Tanto no que se refere às questões práticas de saídas efetivas para o controle de contaminação, e consequentemente da taxa de mortalidade, quanto àquilo que se relaciona com as questões subjetivas que desembocam no processo de empatia.
Pensando nos impactos que ela causa na habilidade de ser empático, podemos considerar que a polarização gera uma fratura, como se a empatia agora estivesse dirigida apenas ao grupo com o qual os indivíduos se identificam (aqueles que apoiam o discurso científico ou aqueles que não o apoiam, por exemplo).
Também não é recente essa posição severa, julgadora no que diz respeito ao comportamento do outro. As redes sociais promovem e alimentam essa posição, ditando o que e como se deve fazer. Como se houvesse uma tentativa de padronização do que é o “certo”. A problemática disso se relaciona com a singularidade inerente ao sujeito, e não há como ceder a isso. Abrir mão da singularidade que existe em cada um, é pensar numa morte subjetiva.
Seria interessante introduzirmos mais um termo: tolerância. Recorrendo novamente ao dicionário teremos que ser tolerante se relaciona com a ação de aceitar, suportar, se disponibilizar para admitir modos de pensar diferentes dos nossos.
Se associarmos os termos trazidos anteriormente: angústia, empatia, tolerância e singularidade, podemos pensar o quanto o cenário atual demanda uma posição empática e tolerante em relação ao outro, visto que cada um em sua singularidade vem tentando construir formas para lidar com as angústias que o atravessam.
Durante esse breve processo de elaboração aqui exposto, tomou-se o individual como referência, contudo, mais do que nunca, nossas ações individuais têm provocado um importante impacto no coletivo.
Pensando nesse texto como possibilidade de abertura, concluo com um questionamento para reflexão de cada leitor em sua singularidade: Como ser empático e tolerante, considerando aquilo que é diferente de nós, quando essa diferença pode se apresentar como ameaçadora? Toda diferença, a princípio, se apresenta como uma ameaça, mas como suportá-la?